sexta-feira, janeiro 07, 2005

Mais um dia perdido em uma vida perdida.
Não consigo achar nem força nem vontade para lutar, para sair da estagnação que só faz crescer. Mergulho cada vez mais nas trevas que ordinariamente me habitam. Tão acostumado estou à escuridão que a simples idéia da luz é o suficiente para irritar-me os olhos.
Cego, surdo, mudo.
De homem tornei-me um glaciar, e gelado continuo por toda a eternidade. Preso em um eterno momento de dúvida, de angústia, de medo.
Fracassado como homem, fracassado como pessoa.
Meu corpo não me pertence, como um estranho habito esta carne, desacostumado de suas limitações, de sua fraqueza, de sua tendência ao sofrimento e à amargura.
Não sorrio mais, não há do que sorrir. Não choro mais, minhas lágrimas secaram há muito.
Não amo, não odeio, não me alegro nem me entristeço.
Permaneço apenas congelado, comatoso.

2:50 A.M. and I'm still feeling miserable.
Quantas lágrimas ainda não derramadas?
Quanto tempo isso vai durar?

MERDA!

Há que ser dado tempo ao tempo.... Incontáveis vezes ouvi esta frase - ou qualquer um de suas variantes - nos últimos tempos...
Mas de quanto tempo o tempo precisa?
Quanto tempo será necessário passar - ou, mais propriamente, quanto tempo o tempo terá que ficar estacionado neste momento interminável que estou vivendo?
Sozinho, mas ainda preso a uma relação que está irremediavelmente terminada.
Quanto tempo até que eu me desvincule desta pessoa, que, embora ausente, teima em inundar com sua presença todos os lugares para onde olho...
Quanto tempo até que eu deixe de imaginar que a qualquer momento irei cruzar com ela... sozinha ou, pior, já de novo amor. Já sorrindo, enquanto eu não tenho mais esta capacidade.
Quanto tempo imaginando - mais propriamente, me iludindo - que ela está em um estado parecido com o meu, quando o mais provavel é que já tenha retomado o curso de sua vida, coisa que eu não consigo fazer, por mais que tente.
Será que é esta tendência que tenho a me torturar? Será que é a culpa que me corrói e que me demanda uma punição? Ainda que saiba que não há culpa, não consigo me convencer disto...
Pela primeira estou eu aqui, no fim de uma relação, pensando que desejaria jamais ter conhecido esta pessoa... jamais ter me envolvido com ela... jamais tê-la amado...
Mil outros já viveram esta angústia... mil outros sobreviveram... mas como sobreviverei, se não consigo sequer olhar para outro lado senão para dentro de mim mesmo?
Como aceitar esta sensação de perda, de morte, quando a outra está ainda viva, respirando e, talvez, indo muito bem, obrigado?
Como resistir à vontade de, como Rip Van Winkle, dormir um sono de décadas, dormir por cem anos, dormir até que me esqueçam, na tentativa de esquece-la?
Nunca em minha vida imaginei que perderia a capacidade de sorrir... Nunca fui alguem alegre, por meus olhos vazava a tristeza que sempre me acompanhou. Mas agora a tristeza que sinto é algo muito mais profundo, muito pior do que qualquer coisa que já experimentei na vida. É uma dor que me corta... que me corrói... dá-me vontade de abrir meu peito com uma faca, para tirar toda a escuridão que nele se alojou.
Deus, até onde irei?
Dizem que do chão ninguém passa... mas eu não consigo sequer ver o chão, parece que ainda estou caindo, caindo, que cairei por anos.
Onde está o fundo do poço? Eu olho para todos os lados e só vejo a escuridão. Não sinto sequer a vertigem, não sinto sequer a queda. O escuro que cerca parece o vácuo, sem movimento, sem sons, sem substância.
Não entendo a dor em meu peito, pois não sinto mais meu coração.
Não aguento mais a sensação de lágrimas inundando meus olhos sem nunca cair...
Quanto tempo um homem precisa sofrer até se convencer de que seu sofrimento é inútil?
Quantos cigarros precisarei ainda fumar, tentando destruir a mim mesmo, fonte de todas as minhas dores...
Quantas vezes precisarei mata-la em minha cabeça, até que eu me convença de que, para mim, ela morreu já há alguns meses? Que ela suicidou-se da minha vida por vontade?
Meu deus, a dor é insuportável.