sexta-feira, julho 01, 2005

Eu Vivo parte do tempo no chamado Mundo Real, e parte em um que somente existe dentro da minha cabeça.

Com o tempo, tenho tentado passar menos tempo dentro de mim mesmo, e sair, mas, de alguma forma, meus esforços parecem não dar o resultado previsto, e eu acabo mesmo é cada vez estando menos naquele que vocês convencionaram chamar de mundo real.

Não que eu seja um escapista ou algo assim. Meu mundo interior não é povoado por elfos, duendes ou seres fofinhos – pelo menos não todo o tempo – por vezes ele se parece mais com o mundo daí de fora do que o próprio mundo de fora se parece consigo.

Em meu mundo há espaço para tudo. Mesmo para a tristeza, a dor e o desespero. Não é um mundo de felicidades ou de alegria eterna.

Às vezes eu controlo o que acontece no meu mundo. Às vezes meu mundo decide o que acontece comigo. Às vezes nada acontece.

Não me perguntem por que eu vivo nesse mundo, eu não saberia responder. Nem me acusem de ter criado um mundo de mentira. Eu não criei nada. Ele sempre esteve lá.

Talvez todos tenham um mundo de mentira dentro de suas cabeças. Talvez vivam parte do tempo nele, e talvez não saibam sequer dizer se estão no mundo de mentira ou no de verdade – se é que há algum que seja de mentira e algum que seja de verdade. Pelo menos eu sei a diferença – na maioria das vezes.

No fundo, no fundo, talvez tudo o que vemos, todos os que conhecemos, tudo o que amamos existam somente no interior de nossas cabeças. Será que meu amigo é meu amigo mesmo, ou será que ele é uma idéia inventada? Quem poderá dizer.

Pensando bem, talvez não seja tão ruim assim viver em um mundo que só existe dentro da nossa cabeça.

De qualquer jeito, quando eu consigo encontrar o caminho, eu saio de dentro da minha cabeça e passo algum tempo no mundo de vocês. Às vezes isso é bom, às vezes não.

terça-feira, junho 28, 2005

Ela - Oi.
Ele - ...
Ela - OOOOOOI...
Ele - Ah... Oi.
Ela - Tudo bem?
Ele - Tá, tudo bem.
Ela - ...
Ele - ...
Ela - Não vai perguntar se tá tudo bem comigo?
Ele - Ah, é... Precisa né... Tudo bem com vc?
Ela - Tudo!
Ele - ...
Ela - ...
Ele - Pô... A gente precisa mesmo passar por isso tudo?
Ela - Isso tudo o que?
Ele - Isso. A gente tá aqui no bar a noite inteira... Se olhando, vc quase me comendo com os olhos...
Ela - Ô... Que quase comendo... Tá pensando que eu sou o que? Ou melhor... Tá pensando que vc é o que?
Ele - A, qualé... Para com isso. Não precisa ficar fazendo pose de santinha... E nem querer insinuar que eu me acho o gostosão... Sabemos muito bem que nenhum dos dois é nada disso. Além do mais, qual é o problema de comer alguem com os olhos - pra não dizer de outras formas - Eu também tava quase te comendo... com os olhos...
Ela - ... - vai virando como quem quer sair de perto.
Ele - Para com isso. Besteira sua ficar assim. Eu sou estava tentando dizer que a gente podia pular essa parte... esse papo besta que não vai levar a lugar nenhum...
Ela - O que vc espera então? Que eu pule no teu pescoço e saia te arrastando daqui direto pra um motel?
Ele - Não... eu moro sozinho, pode ser lá em casa... - Ele espera a reação, que parece não ser das melhores, e emenda - Brincadeira.. Não resisti à piada. Mas, pensa bem, não seria mais fácil se a gente não precisasse inventar toda uma fantasia pra poder, no final, trepar?
Ela - Como assim?
Ele - Como assim o que? Vai dizer que nunca pensou nisso? Olha só: Estamos em um bar, sozinhos, vc me deu tesão, acho que vc tb ficou com tesão... Então por que não resolvemos logo isso? Talvez até depois possamos, realmente, nos conhecer melhor... Por que, então, a gente tem que fingir que precisa se conhecer melhor antes de trepar? Não fica tudo muito mais fácil se a gente queimar essa etapa?
Ela - ...
Ele - Então... Vamos logo sair daqui?
Ela - Qualé? Já te disse que não sou dessas... vai se fuder...
Ele - Na verdade, eu preferia te fuder, mas, já que tá difícil, valeu, té mais...

Ela vira as costas, sai, e volta para o grupo das amigas, bem puta da vida.

Ele encosta na parede, com o ar cansado, e suspira.

- E aí? - pergunta o amigo que se aproxima - Não rolou?
- Não... muito complicada essa garota. Só falta querer o meu boletim escolar e a caderneta de vacinação pra trepar comigo... Ah, não fode...

Ele pede mais um uisque, e, pesando os prós e os contras, conclui que não foi de todo o mal ter tomado um fora. Pensa : Ah, ia ter que ficar inventando papo, falando de micaretas e coisas assim, depois da trepada ela ia querer um abraço, meu telefone, que eu ligasse no dia seguinte... Talvez depois da terceira ela até achasse que tava me namorando... daí pra querer casar comigo ia ser um pulo. Melhor assim.
Ele termina o uisque, e vai para casa jogar Counter Strike.

Vamos celebrar todas as partes de nós que ficaram pela estrada.
Derramemos uma lágrima por tudo o que se destruiu,
Mas sem desfazer o sorriso que surgiu ao se ver que algo tomou o seu lugar.
Não teremos a alegria que um dia imaginamos,
Mas teremos outras, que não ousávamos sonhar.
A tristeza da qual fugimos nos atingiu,
Mas ao contrário do que pensávamos, não nos destruiu.
Mesmo o desespero, que vivemos em dias frios, em noites sombrias,
Não foi maior do que o medo que tínhamos de nos desesperar.
Deixemos as ilusões, os planos, os medos.
Devemos viver, aos poucos, da forma como muitos afirmam viver,
E poucos, na verdade, tem coragem de tentar.

Eu fiquei muito tempo em um buraco.
Me escondendo da dor, me escondendo de mim,
Me torturando em fantasias, em loucuras permitidas,
Destilando minha própria heroína, me afogando no veneno de minhas veias.

Mas chega, não mais serei uma imagem, uma fantasia,
Não mais me disfarçarei em sombras,
Serei não mais um personagem,
mas sim eu mesmo...
O que quer que isso seja.