sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Noite, tão grande noite.
Do tamanho de minha alma,
Noite que me engolfa e me sufoca
Noite eterna, intangível noite.

Queria, como Whitman, poder cantar o dia, a luz, a alegria
Mas como falar do que não conheço?
Sigo, assim, imerso em treva
Em vez de música, um lamento
Um choro de carpideira acostumada à morte.
Um nada no fundo de um copo

Vingo-me nos cigarros,
Vendo-os, um a um, consumirem-se
Enquanto consumo a mim mesmo
Meus sonhos desfazem-se na fumaça
De mais um que apago
Apagando, assim, a minha vida
Até que nem mesmo memória de mim reste nesse mundo

No brilho fugaz de olhos noturnos busco consolo
Ao menos um momento de gozo, mais uma fuga
Comprando com mentiras amores vazios
Suores, tremores, orgasmos quase arrancados

Desisto destas pequenas ilusões
Tranco a porta de meu quarto
Sem perceber – ou percebendo – que tranco a minha própria alma
Prisioneira de cadeias por mim forjadas
Extinguindo-se qual uma chama não alimentada


Quem seria eu? Pergunto-me sinceramente?
Seriam meus medos maiores do que minha capacidade de lutar?
O medo de perder faz com que eu abandone o jogo antes mesmo do início?
Qual um náufrago procuro uma tábua que me suporte e permita-me viver um pouco mais...
Mas os destroços não oferecem abrigo
A tábua não é suficiente, afunda sob o peso de minha culpa

Quem eu poderia ter sido?
Poderei ainda abrir a porta de meu quarto?
Temo não ter amigos a chamar para a ceia.
Em