quarta-feira, abril 24, 2002

Carlos anda pela rua distraído, meio que assobiando, meio que murmurando “chega de saudade”. Na verdade, a música está entranhada na sua cabeça. Ele acha que deveria estar sentindo saudade de algo ou de alguém, embora não esteja certo de que ou quem....
Passa distraído, não percebendo a beleza da arquitetura de um prédio do centro do Rio de Janeiro à sua direita, ignorando completamente a existência de diversos meninos de rua que o olham passar, meio que esperando uma esmola, meio que pensando em uma maneira de levar a sua carteira...
Carlos não percebe que Maria, morena, bonita, de alguma forma se encanta com o seu andar, com o seu jeito distraído, ou sabe-se lá com o que. Aí está mais uma das histórias de amor que nunca ocorreram...
Estivesse Carlos menos distraído, menos mergulhado em si mesmo, perceberia que Maria não era, afinal, nada de se jogar fora... Além de bonita, era uma pessoa bem interessante...
A culpa toda disso pode ser imputada a Tom Jobim... Não tivesse ele composto “Chega de Saudade”, talvez naquele dia Carlos prestasse mais um pouco de atenção a sua volta. Talvez percebesse Maria, seus olhos curiosos seguindo sua passagem... Talvez parasse e pedisse seu telefone... talvez a chamasse para tomar um chope, ou talvez não....
Talvez Carlos ignorasse Maria e dirigisse seu olhar para Carmem, que andava do lado da primeira, e, também absorta em alguma música que tocava em sua cabeça, sequer percebia que Carlos passava próximo a elas...
Talvez Carlos se tomasse de amores pro Maria, talvez fosse rejeitado e talvez, desesperado, se matasse...
Mas, na verdade, nada disso aconteceu... Carlos seguiu andando, meio que assobiando, meio que murmurando... Maria seguiu, ignorada, seu caminho ao lado de Carmem, que não pensava em nada, senão em qual seria a letra daquela música cuja melodia não saía de sua cabeça.